ainda outro dia

 
 

Laura :: 12:39 da manhã

2 Comentários:

Blogger Pedro Pinto disse...

é só uma coincidência macabra

mas gostei dos fields e fazem-me rir
como a laura

12:41 da manhã  
Blogger rita disse...

Minha querida filhinha
Soube ontem que você tinha nascido, e não pode calcular a alegria que essa notícia me deu. Não sei o dia, não sei a hora, não sei como foi. Mas sei que você já cá está, no mundo, e isso é que é importante.
Sou o seu pai. Há nove meses que tenho por si um amor como nunca tive por ninguém. Um amor diferente. Há nove meses que sonho com este dia, que penso como serão os seus olhos, o seu cabelo, a sua cara. E tenho a certeza que você é a rapariga mais bonita, mas bonita do mundo, e sinto-me já, muito orgulhoso de si.
Você não faz ideia como é importante para mim. Até agora tive dois momentos de grande, de intensa felicidade na minha vida. O primeiro, quando casei com a sua mãe. O segundo foi ontem, ao saber que tinha nascido, você, a minha filha mais velha. Você é um testemunho do amor dos seus pais, e mais um motivo a uni-los, a dar-lhes força e coragem. Você é a nossa filha. E nós esperamos que seja sempre feliz e nunca nos queira mal por ter nascido. E que seja alegre e nos ajude a viver.
Trate bem da sua mãe. Você e ela são as duas pessoas de quem gosto mais no mundo. Faça-lhe companhia, para que ela não sinta muito a minha falta. Não seja azeda. Não há nada pior que uma pessoa azeda. E pense em mim de vez em quando, em mim, que tenho tantas saudades das duas.
Bem, agora que tenho duas mulheres em casa, acho que fico em minoria... E espero que você se pareça com a sua mãe. Sempre quis ter uma filha que se parecesse com a Zé (a Zé é a sua mãe),e fosse tão bonita como ela. Nós pusemos tanto amor em si que tenho a certeza que é linda. Para nós os dois é a mais bonita do mundo. É a nossa filha.
Outra coisa que eu queria pedir-lhe era que fosse meiga para mim. Quando eu for velho conto consigo para me ajudar. Nessa altura serei eu a criança, o mais pequeno. E você há-de deitar-me na sua cama e contar-me histórias para eu adormecer.
Muitas saudades do seu pai que a adora, e muitos beijos para si.

Meu querido amor
Como é ela? Baixinho para que não nos oiça. Quero saber tudo. Tudo! Que alegria me deste! Tiveram de repetir no rádio filha, filha, antes que eu percebesse. Mas ainda não sei nada. Nem o dia em que nasceu. Eu bem me parecia que era uma mulher. Hoje informei os enfermeiros que tinha uma filha toda boazona!
Gosto tudo de ti.
Estou aparvalhado de felicidade que não digo coisa com coisa. Só me apetece repetir muito obrigado muito obrigado até ao fim do papel.
Até ao fim do papel.
Milhões de beijos do teu homem que te adora até ao fim do mundo, sempre.
António

in "Cartas da Guerra" António Lobo Antunes

10:58 da tarde  

Enviar um comentário

eXTReMe Tracker